ligeirinho, ligeirinho...
Assim decidi por um "Ovo em Cocotte", legumes salteados e uma tosta...
pois, mas de ligeira pouco tinha...lol
o ovo, as natas...enfim!
mas vos garanto que estava um petisco de "comer e chorar por mais".
num registo mais calmo
Foi o meu jantar de ontem:
Empadão de grelos e farinheira:
-puré de batata (congelado em cubos, basta 3 min no micro-ondas).
-farinheira, depois de cozida é esmagada, (acho que alheira também deve ficar bem).
-grelos salteados (os que eu usei são congelados, duma marca conhecida, cujo nome se parece com uma casa de gelo(???), não aconselho, são muito duros, usem antes espinafres).
" O Regresso dos Demónios"
Era quarta-feira...os monstros da semana chegavam devagar, os sons, os gestos, as dores...…O irmão tinha telefonado a dizer que vinha e jantaria com eles, resolução sem direito a desculpa, o que a deixara ainda mais nervosa.
As horas custavam a passar, o irmão, que era médico, chegara fazia já quase uns vinte minutos e a ansiedade aumentava, tudo porque todas as quartas-feiras Viriato entrava em casa invariavelmente bêbedo, depois de ter estado com os amigos no clube. Se qualquer coisa o incomodava era nela que se vingava, maltratando-a, física e psicologicamente, a ponto de Eduarda já por mais duma vez ter sido assistida no hospital.
Durante anos escondeu do irmão os maus-tratos de que era vítima, arranjando sempre uma desculpa ou evitando até estar com ele, mas das últimas vezes não fora possível esconder mais que ele a visse naquele deplorável estado, vítima das agressões físicas de Viriato.
Nesta quarta-feira Diogo fez questão de estar em casa da irmã para ter a certeza de que, estando ao lado de Eduarda, nada lhe pudesse acontecer.
Viriato chegou por fim, já embriagado como ela temia, tropeçando e resmungando e só mudou de atitude quando viu o cunhado. Fez-lhe um desusado cumprimento, eufórico, tentando ser simpático, logo o convidando para festejar.
Começaram a beber mesmo antes de ir para a mesa; durante o jantar Eduarda manteve-se calada, Diogo ouvindo, Viriato tomando a chefia da conversa, entaramelando umas tantas descabidas sentenças e uns tantos exagerados preconceitos.
Foi quando pousou a garrafa vazia e gritou para Eduarda ir buscar mais uma outra à despensa e ela, a medo, lhe disse que não havia mais nenhuma, que as coisas se descontrolaram; começou a insultá-la, esbofeteando-a mesmo ali em frente ao irmão.
Para apaziguar os ânimos Diogo prontificou-se a ir buscar uma à tasca ao lado, ainda aberta àquela hora, enquanto Eduarda se refugiava no quarto, seguida de Viriato, que continuava a insultá-la, ameaçando, com coléricas palavras, dar cabo dela.
Quando, passados minutos, Diogo chegou da rua a irmã estava caída no chão e sangrava abundantemente, inanimada; Viriato ainda brandia na mão um pau com que a devia ter agredido, a perna duma cadeira velha.
Diogo debruçou-se sobre o corpo da irmã, tomando-lhe o pulso, e virando-se para Viriato, que permanecia mudo e estupefacto, apenas lhe disse: «isto é grave, vai embora, toma as chaves da minha casa e espera lá por mim». Atordoado, olhando a mulher que se esvaía em sangue, Viriato obedeceu.
Foi Diogo que tratou de tudo, chamou a ambulância e internou Eduarda, preencheu a ficha alegando que a irmã tinha caído dum escadote ao tentar ir buscar uma caixa, que estava em cima dum armário. Durante os dias seguintes Diogo tratou da irmã, não se afastando um segundo do seu leito, não deixando que ninguém mais cuidasse dela, já que era médico naquele mesmo hospital. Em vão, Eduarda faleceu, foi Diogo quem assinou a certidão de óbito, tratou do funeral e da incineração.
Acoitado Viriato foi por fim encontrado em casa dum amigo depois duma denúncia anónima. Julgado, foi condenado a uma pena de 18 anos por homicídio qualificado, para o que contribuiu o testemunho inesperado do cunhado, que não aguentou a pressão do interrogatório de Delegado do Ministério Público e acabou por contar tudo o que vira naquela fatídica quarta-feira.
Fora feita Justiça!
Eduarda e Diogo eram não só irmãos mas grandes amigos e ambos sabiam que o autor de violência doméstica nem sempre era condenado com a devida punição. E anos de sofrimento levaram-na à exaustão. Quando uma semana antes daquela quarta-feira Eduarda disse «BASTA!», Diogo prometeu ajudá-la.
Combinaram tudo ao pormenor. Sabiam de antemão as reacções possíveis de Viriato. Diogo, como médico, tinha maneira de poder trocar nomes, falsificar a certidão de óbito e reconhecer perante um funcionário da Morgue o corpo duma indigente desconhecida como sendo o de Eduarda, que já ia a caminho do Canada no mesmo dia em que Viriato era preso.
Calcularam que este continuaria a beber durante o jantar, que iria querer mais uma garrafa de vinho e como se iria enfurecer quando soubesse que não havia mais. Diogo não chegou a sair de casa e o sangue não era mais do que um composto preparado por ele para enganar o cunhado. Quando Viriato bateu na Eduarda ela fingiu ter batido com a cabeça e ao se deixar cair espalhou no chão o saquinho do suposto sangue. Foi Diogo que denunciou Viriato, e fingiu ser forçado a testemunhar contra ele…tudo correu conforme o previsto.
Tudo?
Tudo até ao dia em que Diogo recebeu uma carta de alguém, que dizia:
“Eu sei tudo, eu estava lá.”